MENINO
Menino descia as escadas na rapidez que suas pernas de menino permitiam. Vencia os degraus com cuidado e num ritmo constante, concentrado no que fazia. Como se não quisesse perder a liberdade de não precisar de um adulto seguindo seus passos o tempo todo.
Quando, enfim, concluía sua descida, não economizava sorrisos de júbilo pela vitória conquistada. Ainda tinha idade, pois, para comemorar o término de cada tarefa que se propunha realizar, por mais pequenina e repetitiva que fosse. Não tinha ainda os três primeiros anos completos.
Vivia solto na casa de vários andares. De longe o olhar da mãe. Os espaços, a mobília, empregados. Todos na mesma casa que o menino, que desse modo passava os dias. Solto. Senhor do que o cercava.
Às vezes, aparecia alguém dizendo coisas para o menino:
- Vem cá, menino!
- Sai da terra, menino!
- Não puxa o fio, menino!
Se o menino se machucava, logo aparecia sua mãe. Que sorria. Beijava. Sorria bonito, a mãe.
O menino não tinha medo de ficar solto, porque quando a mãe sorria, ele sorria junto.
Medo ele sentia apenas perto do pai. Do pai sumir de perto.
Era bom o colo de seu pai, mais confortável que da mãe e as outras mulheres que o punham em seus braços. O pai falava coisas, explicava outras, fazia com que o menino risse e sumia. E vinha o medo. O pai saía de novo.
Nessa época o pai viajava sempre. Trabalho. Sempre o medo.
Mas o menino tinha a receita de sumir com aquele medo. Corria pela casa. Ocupava os empregados em sua volta:
- Vem cá, menino!
- Sai da terra, menino!
- Não puxa o fio, menino!
Menino, menino, menino. Isso. Aquilo.
Tomou posse de áreas cada vez maiores da casa.
Desbravou o quintal, que clamou para si em todo seu esplendor de quintal cheio de plantas, insetos, passarinhos.
Falava com os passarinhos. Piu, piu, piu,... Não se interessava pela conversa de plantas e insetos.
Um dia, no alpendre da porta da cozinha, investigava uma mangueira de plástico amarelo e viu sair de casa carregando bolsas a moça que limpava a casa, o quarto do menino.
De dentro da cozinha ouviu os empregados dizendo que foi certo o feito. Gostava demais da moça o pai do menino.
Depois do dia em que ela foi embora, o pai do menino começou a sair menos. Viajar menos. Ficava mais em casa. Mais perto do menino. A mãe ficou sem sorrir.
O menino ficou com saudade do riso da mãe.
O pai ficou sem graça sem o riso da mãe.
Às vezes aparece alguém perguntando:
- Cadê o menino?
- Cadê o menino?
O menino longe. No quintal. Com os passarinhos.
Quando, enfim, concluía sua descida, não economizava sorrisos de júbilo pela vitória conquistada. Ainda tinha idade, pois, para comemorar o término de cada tarefa que se propunha realizar, por mais pequenina e repetitiva que fosse. Não tinha ainda os três primeiros anos completos.
Vivia solto na casa de vários andares. De longe o olhar da mãe. Os espaços, a mobília, empregados. Todos na mesma casa que o menino, que desse modo passava os dias. Solto. Senhor do que o cercava.
Às vezes, aparecia alguém dizendo coisas para o menino:
- Vem cá, menino!
- Sai da terra, menino!
- Não puxa o fio, menino!
Se o menino se machucava, logo aparecia sua mãe. Que sorria. Beijava. Sorria bonito, a mãe.
O menino não tinha medo de ficar solto, porque quando a mãe sorria, ele sorria junto.
Medo ele sentia apenas perto do pai. Do pai sumir de perto.
Era bom o colo de seu pai, mais confortável que da mãe e as outras mulheres que o punham em seus braços. O pai falava coisas, explicava outras, fazia com que o menino risse e sumia. E vinha o medo. O pai saía de novo.
Nessa época o pai viajava sempre. Trabalho. Sempre o medo.
Mas o menino tinha a receita de sumir com aquele medo. Corria pela casa. Ocupava os empregados em sua volta:
- Vem cá, menino!
- Sai da terra, menino!
- Não puxa o fio, menino!
Menino, menino, menino. Isso. Aquilo.
Tomou posse de áreas cada vez maiores da casa.
Desbravou o quintal, que clamou para si em todo seu esplendor de quintal cheio de plantas, insetos, passarinhos.
Falava com os passarinhos. Piu, piu, piu,... Não se interessava pela conversa de plantas e insetos.
Um dia, no alpendre da porta da cozinha, investigava uma mangueira de plástico amarelo e viu sair de casa carregando bolsas a moça que limpava a casa, o quarto do menino.
De dentro da cozinha ouviu os empregados dizendo que foi certo o feito. Gostava demais da moça o pai do menino.
Depois do dia em que ela foi embora, o pai do menino começou a sair menos. Viajar menos. Ficava mais em casa. Mais perto do menino. A mãe ficou sem sorrir.
O menino ficou com saudade do riso da mãe.
O pai ficou sem graça sem o riso da mãe.
Às vezes aparece alguém perguntando:
- Cadê o menino?
- Cadê o menino?
O menino longe. No quintal. Com os passarinhos.