Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

A Foto

No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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terça-feira, julho 02, 2013

LAR

É tempo de pôr fim
à orfandade
agora

nada restou pra aprender
nem acalmar
se

peça por peça
o castelo cai

(ele é tão fraquinho)

corte após corte
o cutelo rasga

caminho

a golpes
vai sendo aberto

com suor, com riso

e o castelo
(agora em chamas)

merece o nome de lar

o primeiro funeral
foi do primeiro
homem

o enterro agora
é da morte em si

(ou bom dia, dia)

o tempo sorri

(era hora, enfim)

LAGARTEAR

O lagarto
a lagartixa
no ponto
da calisto
tomam táxi
descem juntos
na ixquina
da ixquerda
onde existe
e é bem alto
o paraíso
e a pedra
ixparramada
ali no sol
que nem rede
lagarteia
ali na noite
onde tem lua
e o dia
lagartixa
onde é lençol
e tem sentido
tudo isso
onde é um riso
e faz sentido
ficar rindo
e estar
então
e pronto
o lagarto
a lagartixa
riem
como não?

sexta-feira, maio 17, 2013

ESTE OLÁ

"Wake up the sun is coming
Through the window"


O tempo não ajudava
fazia frio
e atrasado
o telefone
o chamado
Como fazer?
tem a chuva
o tempo passando
o lá bem longe
e a falta de quem
de alguém
será quem que vem?

Sou eu
Eu vou,
eu estou
aqui e vou
ali
mas volto
Como?
Quando?
Quanto?
Não vê?
Não dá!

Tem o tempo
que impede
é preciso saber
o tempo
não deixa
brecha
no tempo
o já
é tanto
o ali
é lá

É preciso saber
a chama
que chama
inflama
quer dizer
Ajuda!
quer dizer
Mas como?
Fazer o quê?

E paro
e mudo
e corro
Ajudo!
(eu grito)
(só que pra dentro)
e roupa e rua
e chuva
e logo
e ouço
É tarde!
Já tem alguém
Já tem quem aqui

E foi
já foi
desceu
a rua
a van
vai longe
ao longe
é tarde.

E eu fico
e grito
(só que pra dentro)
Corra!
e sai
e busca
e faz
e muda
e Corra!

Porquanto aqui
está tudo ok
tudo está você
tudo no mundo
é você
você tem o tudo
está tudo certo
já vai tudo bem

E até o tempo
e este olá estão
como bem lá longe
está também o lá
onde quer chegar

Porque até a chegada
está lá também
é porque a chegada
é também você.

segunda-feira, maio 06, 2013

ALEGRIA

Alegria de sombrinha
é sair na chuva
pra se molhar

domingo, março 17, 2013

VOCÊ EM MIM

Um beijo
um oi
um ai
um foi
já vai
nem sei
se cabe
ou cai
se pode
ou fode
ou mais
ou conta
ou crê
ou faz
de novo
o oi
o ai
o foi
o vai
no bom
que é
que traz
te ver
te ter
ter tido
e sido
quase
outro
novo
ser
no ser
contigo
outro
novo
estar
de novo
assim
em mim
em ti
o quase
sim

você em mim.

quinta-feira, março 07, 2013

HAIKAI

arcos em luz
carro em cima água embaixo
um rio passa

arcos em luz
carro em cima água embaixo
um rio passa

arcos em luz
carro em cima água embaixo
o rio passa

 

domingo, março 03, 2013

FEIJÃO COM ARROZ

a vida é beans 
é rice
rice and beans
risco e beijo
é moda e means
jóia e jeans

já vem assim!

não tem segredo


desde o começo
a vida é meio

sábado, março 02, 2013

MAS


cuidado
cuida do
mas
ele faz mais
ser menos
bota adverso
no verso

tira de dentro

rouba da boca
vai na mão grande
cheio de regra
mete uma banca 

mas é pequeno



QUANDO VOCÊ FOR ESTUDAR FORA

escolhe um lugar bem legal
mas se não for tão legal

não tem problema
quando eu for
vou alugar um carro 
e te levo pra gente girar as terras
e ver o que tem por lá
as gentes
os ares
os tic tacs do som dos teclados
a poesia
as letras e artes

os quadros de pollock
estradas, deserto, a montanha,
e o que for longe 
eu deixo encostado o carro
te ponho num aeroplano
e a gente chega longe
onde esta a música

o jazz
(deixo até você fazer compras)

o encanto das pradarias
a loucura dos jogos de azar
orleans
a costa oeste e os beatniks
(mentira, você nem vai lembrar que podia estar fazendo compras)
vamos ver o sol de costa a costa
e pensar
"que bom é estar na américa"

e a vida vai ser uma torta de maçã resfriando na janela
vai ser do jeito que nosso american way quiser.

BOMBOM


Te pururuco a frente
Te pururuco atrás
Pururuco a frente
Pururuco atrás

Te assumo
aprumo
empurro
apalpo
apupo
apuro
apoio
enxugo
enxoto
afago
afogo
amasso
empunho
empuxo
arranco
alcanço
coço
cato
cutuco
toco
corro
fungo
e como

e claro
um pouco


Na frente te pururuco
pururuco atrás

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

QUE NEM

que nó
que nó
que nó
que nem
um nó
que nó
que nem
o nós
que nó
que norte
o nó
a morte
o pó
que só
que nem
a sorte
pode

a porta
aponta
o nó
o nós
a nus
que nem
que o nós
que é nó
é pois
é pus.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

SAUDADE


Saudade fez você vir
romper o cordão de mágoa
o choro voltou a rir
antes formava um fosso
agora é ponte de lágrima.

Saudade me trouxe aqui
de novo de peito aberto
desisto de desistir
chega de desencontro
junto é que vai dar certo.

Amor é como nuvem,sei
que passa e vai mudando,
quem fica e muda junto
consegue seguir amando.

Amor é corrente d'água
que nasce e, feito rio, desce,
dá pena de quem não lembra,
pior é quem nem conhece.

segunda-feira, dezembro 10, 2012

RESPOSTA

 Que nem rastro de borboleta quando voa.

ESTEJA PRONTA

O fim das tentativas
faz a gente possível
e a expectativa morta
faz do agora, aviso
e do momento, alerta

Esteja sempre de prontidão

Deixar de querer que seja
de querer que atenda
convida para o perdão
banha de plena atenção
e recria o presente aqui

Esteja limpo seu coração

Abrir mão do esforço
faz o riso, a regra
faz a vida, entrega
enquanto choro, tristeza e mágoa
reciclam perdão e culpa
exigem sempre compensação

E posto que eu quero apenas
amar você
Esteja apenas

E dado que o medo, o rancor, a espera,
inventam separação
É que apenas seja

Que eu estou tão somente amor
Sou apenas amar, amor
Eu amor você

ISSO

Isso não é declaração de princípio
não é reza
não é discurso de formatura
não é meio
não tem fim
não cobre danos contra terceiros

Isso não é argumento
não tem hipótese
não ensina
não faz idéia
não é crença
não é sujeito, nem esconde uma oração

Não é voto de verdade
não vem com bula
não é sua santidade
não faz a terra girar
também não faz nada disso
nem faz ser dia quando é noite no japão

Isso
é poesia

um poema

Igual aquela bunda
debruçada nessa cama

um poema

sexta-feira, dezembro 07, 2012

CORPO

O corpo feminino
quando é bonito
endurece a pica
enrijece o membro
deixa grande a jeba
e levanta a vara
entumesce a trolha
põe de pé o mastro
e arma um longo e ereto pau de montar barraca!

O corpo feminino
é bonito pra caralho...

terça-feira, dezembro 04, 2012

MARCAS

Ocre
o muro sofre seu fim
no céu azul

Cedo
a noite entardece logo
pela manhã

Livre
a presa promove a fuga
onde agarra

Algo
transparecido
metrificado

O mesmo esgar
só que muito
modificado

terça-feira, setembro 11, 2012

SUBTRAÇÃO

3 na grama
2 na cama
1 reclama

quarta-feira, julho 25, 2012

PRAIA DO FLAMENGO

Evidências quando toco no violão é pra você.
Ir à Itália guardei pra gente.
A saudade se mudou cheia de tralha inútil aqui pra dentro.

O sorriso verdadeiro é seu.
O brilho das festas, o álcool, as drogas, não ficam no lugar do amor.
O amor é nosso.

A distância não é de ninguém.
O orgulho não ama.
A mágoa escreveu requerendo a autoria do muro que ficou no meio.

E a gente
Como sempre

Podia ser diferente

Podia ser diferente

Podia ser

Podia

(?)

quinta-feira, junho 28, 2012

PRECE DA MORTE DO CACHORRO

Deus, o sofrimento dos bichos e gentes
seja menos do que a acolhida das dores
e esperanças guardadas nos corações.

O andar em frente seja presente e cheio
de voltas - as recordações - e vivo
do que resiste - no tempo - os amores.

Seja leve o tempo do choro,
marca da tristeza sentida,
e breve a pausa do alívio,
prova de que existe paz

para que haja sempre
o que guardamos de bom:
o tempo vivido juntos, instantes,
aquilo que é - e foi - aconteceu a dois.

Amém

quinta-feira, abril 26, 2012

ALCOHOL

Desde que
você está
bem aqui
cá comi
go assim
eu consi
go achar
repetir
renovar
nunca vou
te deixar
meu amor

Alcohol

Desde que
você co
migo está
eu me sin
to capaz
outro ar
novo mar
eu sou mais
do que eu
sou de no
vo bem mais
muito mais

Alcohol

Não me sin
to sozi
nho esse tem
po ficou
para trás
vou atrás
sou um ou
tro sorri
so sou paz
o vazi
o estiou
aliás

Alcohol

terça-feira, abril 17, 2012

DE NOVO

começo
é o tempo
que fica
no meio
do antigo
e o novo
tropeço

quinta-feira, abril 12, 2012

HAICAILYWOOD

Gente bem sucedida me dá tédio
É muito remédio pra nenhum azar
E montes de areia pra tão pouco mar

sexta-feira, março 30, 2012

HAIKAI

um sapo acha
um outro acha igual
co acham

HAIKAI

o quinto motivo demos
não mais que quatro
existiam

quarta-feira, janeiro 11, 2012

TINHA

Tinha cabelo dela
na calcinha
era cabeludinha

Tinha cabelo dela
na panela
era mulher prendada

Tinha pelos
por sobre a fronha
servia pra mesa e cama

Ficou pelo
numa banana
comia sempre tudinho

Ficaram tufos
na minha boca
ai! que sufoco

e uns cabelos
por entre os dedos
para colher segredos

Tinha cabelos
onde eu olhava
onde eu passava
tinha seus pelos

como era linda
era rosada

Deixou os pelos
por todo lado
cabelos
embaralhados

saiu lisinha

despenteada

sábado, dezembro 31, 2011

CONDE DE BONFIM (Parte 3)

Eu queria não desencantar. Sabe como? Viver um desses tipos de esperança que não dá pra gente evitar mesmo querendo, porque vai pegando, ocupando espaços, vai se impondo como quem grita “não tem jeito! o jeito é esse! viver, se permitir, se abrir para as possibilidades, para não perder a vida enquanto se esperar a vida chegar”. Só que fica essa coisa corroendo que não deixa. Esse acontecer que é hoje, que acontece dentro, que diz que todo o tempo é vivido no presente, que estamos sempre vivendo o que precisávamos viver. Que por causa disso nenhum tempo é perdido, é o que foi. Inevitável assim. Eu queria não lembrar. Queria não sentir. Mentira! O que eu não quero é sentir o que não posso viver. O que eu não quero é sentir medo. Eu quero confiar de novo. Eu quero amar e ser amado. Ficar de pau duro e gozar sem medo. Enxergar de novo você sorrindo, feliz. Quero reescrever a história. Escrever a história. Ser um desses autores que conhecem tintim por tintim onde vai dar o romance que estão escrevendo. Ser mais parecido com essas pessoas que determinam seus destinos na base de força de vontade hercúlea e de universos que conspiram a seu favor. Queria ser um desses caras que vivem quebrando as próprias regras, pegar o telefone e ligar, ouvir sua voz e desejar “Feliz Ano-Novo!”. Desejar com sinceridade, ou fingir bem o suficiente para fazer você acreditar e com isso sentir você sorrindo do outro lado do telefone. Queria jogar para o alto o orgulho, a vaidade, a raiva, a tristeza acumulada. Tacar fogo no que tem de próprio no amor-próprio, para ficar somente com a palavra amor e chamar você para sair, refazer o desfecho da nossa história. Convidar você para quando der meia-noite saltarmos sete ondas e para cada uma delas pedirmos de volta a coragem de amar, perdoando os erros de cada um e perdoando a nós mesmos também. Tomar champagne, sair de mãos dadas, tantos e tantos beijos e palavras doces e desejos que estão guardados esperando que um revéillon de coragem e amor exploda em algum lugar dentro de mim e de você. Eu queria o reencanto. Ou que um querer apenas fosse suficiente. Pois é... Feliz 2087.

FELIZ ANO NOVO

Não tenho mais
trinta e três anos
o que me fode

é o amor

NUS

Rosa
buceta
o cu

flor
aberta
e zás

gosto
de filha
o rasgo

papo
de aranha
atrás.

Fist fucking sapateado
um sorrateiro final feliz

ou

mãe é mãe
é uma paca

a vaca também é mulher.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

CONDE DE BONFIM (Parte 2)

Não foi você que decidiu que não queria mais? Que escolheu não querer? Não amar, não ser amada... Que preferiu o medo? Então repita para si mesma: “Eu quis assim”. “Estou feliz com minha covardia”. Bom... Mais uma vez. Muito bem. E não mande SMS. Não mande presentes, não ligue. Não queira ser lembrada. Não surja sorrateira, deixando marcas, demarcando território. Faz o que estou falando e prometo que realizo sua vontade e te esqueço. Que ainda vou ouvir falar de você e sentir apenas uma sensação esquisita do tipo “caramba! eu senti mesmo tudo aquilo?”. Desse dia em diante, juro que recebo seus presentes. Que vou rir com você das suas escolhas infelizes e que vamos até sair para tomar umas cervejas. Quem sabe não acabamos amigos e nos abraçamos dizendo um pro outro “te considero pacas, cara”? Mas, até lá, não. Até lá é como é. Como você quer que seja. Então se não for para confessar sua estupidez, não ligue. Se não foi porque caiu em si, não escreva. Aproveite a vida que decidiu ter. Vai tocando o barco, seguindo em frente, que é pra onde dá pra ir. E lembra de fazer a dieta que o médico prescreveu. E de ir à academia que você evita. Come direito. Se cuida. É pro seu bem.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

O QUÊ?

Muitos anos atrás
foi
há muitos anos atrás.

terça-feira, dezembro 13, 2011

BOAS FESTAS

Na tal noite
pequenino
mamei no peito
esparramado
fui ninado

Na tal noite
brincamos
de papai-mamãe

Noel

Fui menino
ganhando presente
e tua estrela-umbigo

belém, belém

brilhava as pistas do caminho

GESTAÇÃO

Ejaculou
palavras
de dentro dela

nove minutos
depois

nasceu um poema

terça-feira, dezembro 06, 2011

FALE C'O NARCISISTA (3)

Tele-atendimento “Fale c’o Narcisista”. Ajudando você, que é quem mais precisa!

- Hoje no café da manhã, meu namorado começou a falar do corpo de umas ex-namoradas dele, eu não gostei nada, nada. Estou pensando em fazer a mesma coisa se ele fizer isso de novo. O que você acha, Fálico?

Falar do corpo das suas ex-namoradas? Interessante. Fale mais.

- Não, Fálico! Dos meus ex-namorados!

Porra! Claro que não! Isso é um relacionamento homem-mulher ou uma democracia? Cada uma...

FALE C'O NARCISISTA (2)

Você ligou para “Fale c’o Narcisista”, tele-atendimento existencial. Diga lá sua questão:

- Ai, Fálico-Narcisista... Tem um cara aí com quem estou saindo, só que ele é muito mandão. Fálico, por que eu faço só o que ele quer?

Porque você gosta, garota. Que dúvida...

FALE C'O NARCISISTA (1)

Serviço de tele-atendimento “Fale c’o Narcisista”, pois não:

- Seu Fálico-Narcisista, meu namorado briga comigo se eu não pinto as unhas de vermelho. O que faço?

Pinta logo, ué? Próximo!

quinta-feira, dezembro 01, 2011

CONDE DE BONFIM (Parte 1)

O café está quase pronto. Forte e perfumado. Sobre a mesa estão o pão, queijos e presunto, junto de uns ovos fritos que fui ajeitando devagarzinho, parando de vez em quando para tocar violão e cantar. Sem pressa. Vou até o quarto e me deito junto de você, ajustando cada ponto de encaixe que fazem a conexão justa de nossos corpos. Você dá um sorriso sem abrir os olhos e eu respondo com uma cafungada forte em sua nuca. O efeito do perfume do seu corpo é imediato e você logo esfrega a bunda no meu pau duro. Lubrificado por uma cuspida, meu pau entra com facilidade. Minhas mãos chegam nos seus seios grandes e macios. Meus dedos alisam calmamente os bicos enquando as enfiadas vão ficando mais fortes. Você geme e fica cada vez mais molhada. O vai e vem aumenta e sinto você cada vez mais apertada. Num giro você se vira, me empurra e senta sobre mim. Sobe e desce no meu pau, sentindo minhas mãos na sua bunda. Os apertões e tapas fazem nascer mais gemidos e minha boca agora chupa os bicos rosados dos peitos. “Chupa os peitos da sua rainha! Chupa meu escravo!”. Meu tesão aumenta e fica incontrolável. “Fode sua rainha! Que fica na rua e deixa você em casa esperando! Fode, meu escravinho!”. Minha porra jorra inundando sua buceta. Arfante ainda, deito você e forço suas pernas. “Abre!”. Os gemidos crescem enquanto chupo. Boca, língua e dedos abrindo espaço e penetrando sua buceta e o cu, em busca do seu orgasmo. Ele vem. Aos poucos, forte, contagiante. Somos os dois deitados, atendidos e unidos. Mãos dadas e beijos trocados. Olhos apaixonados e reclamações. “Você só pensa em me comer!”. Eu sorrio. “Sorte a sua”. Rimos. No banheiro conversamos e esfregamos as costas um do outro. Seu trabalho, seus pais, sua irmã. Os assuntos que ocupam e preocupam você. Eu ouço e comento. Dou minha opinião, conto histórias parecidas. Irrito você porque não sigo a regra de que se deve apenas escutar a mulher, sem manifestar os próprios pensamentos. Mas nos beijamos e nos entendemos. À mesa, você elogia o café. Ouvimos música e lemos jornal. Sentada à minha frente, você estica as pernas até minha cadeira. Uma das minhas mãos acaricia os dedos e massageia a planta dos seus pés. Ainda vamos escolher o que fazer. Alguma coisa juntos. Cinema, praia, ostras no boteco perto da Praça, talvez uma exposição em algum lugar. Talvez ficar em casa, cuidando para não encher tanto a vida, que não nos sobre o tempo necessário para vivermos. Eu olho para você e entendo tudo. Quase não se ouve o barulho da demolição do casarão ao lado. Já do som infernal do trânsito da rua Conde de Bonfim, desse eu mal consigo me lembrar.

FRESCURA

É a festa de confraternização do local onde trabalham. Dezenas de pessoas que passaram o ano convivendo profissionalmente encontram espaço para demonstrar alegria pelas realizações alcançadas e para renovar a convicção de novas conquistas no futuro. Sorridentes, os dois dançam, entregues àquele rito de celebração. Fotos antigas são projetadas em um telão e ele se lembra de que há três anos eles dançaram juntos, naquele mesmo local, na mesma festa de fim de ano. Eles é que não são os mesmos. Estão diferentes. Agora riem mais confiantes, mais íntimos. Coisas do tempo. As formalidades na pista de dança não são mais necessárias e ela se desfaz dos sapatos, trazendo para a festa a leveza de seus pés descalços. Depois é ele que se livra de sapatos e meias, compelido a acompanhar o gesto dela, embora sem a mesma graciosidade. Os pés descalços na pista de dança os unem, selam entre os dois um pacto pela alegria e lhes dão algo que agora compartilham. São parte da alegria um do outro enquanto dançam despreocupados e felizes. Dividem uma celebração verdadeira em meio a pedaços de vidro deixados no chão pelas taças que se quebraram. Preocupado com possíveis cortes e perfurações, ele faz menção de entregar a ela de volta os sapatos que podem de novo proteger seus pés. Ela retruca: “Frescura!”. Ele ri. Permanecerão descalços. Não existe espaço para frescura naquela noite de música, giros e risos. A menina criada no subúrbio do Rio, correndo descalça no asfalto quente e na terra batida dos quintais, tem seus pés protegidos pela certeza de que existem coisas muito mais importantes do que se usar sapatos quando se está feliz. No topo da lista, a própria felicidade. Na outro dia, ele lava os ferimentos dos pés e retira os pedaços de vidro mais persistentes. Não consegue deixar de dar razão a ela e sorri: “Frescura”.

quarta-feira, novembro 30, 2011

PESSOA QUE EU TALVEZ ESQUEÇA

Pior é o facebook, que começou uma campanha e deu para me oferecer sua amizade anunciando você como “pessoa que eu talvez conheça”. Do nada, pula na tela seu nome, sua foto e um lembrete de nossos oito amigos em comum. A mensagem é clara. Não é para contar com ele no projeto de fazer de você uma “pessoa que eu talvez esqueça”. Não vai rolar.

sexta-feira, novembro 25, 2011

APARTAMENTO

voz de momento
vós no silêncio

vês em segundos
vezes demora

tempo que passa fora
sons que ressoam dentro

apartamento

segunda-feira, novembro 21, 2011

CONTINUE A SE ALIMENTAR DIREITO

Uma das partes mais tristes é não ter notícias suas, apesar de saber que você está viva. Sei que você luta contra a glicose alta e que não pode comer todas as coisas de que gosta, nem pode beber. Que está tendo pensamentos ambíguos sobre se vale o esforço e se os perigos de tudo isso justificam mudar tanta coisa em sua vida. Que tem sentimentos de dúvida sobre as vantagens e desvantagens de se manter na dieta, começar a fazer exercícios físicos, para escapar de acabar diabética, essa ameaça que apareceu de repente quando a gente ainda se via (acho que no fundo eu estar perto te deu coragem para ir ao médico e fazer os exames que você vivia adiando). Sei lá... Nem sei bem porque acho que sei de tudo isso. Já faz tempo que não recebo notícias suas. Se bem que... Não, já faz tempo. Apenas sei que sei. O que deixa tudo bem mais triste, porque tem grandes chances de ser tudo invenção minha. Quer dizer, da minha cabeça estar inventando tudo isso. Pode ser que você tenha voltado a beber e comer de tudo. Pode ser que você não se importe mais. É possível até que já esteja morta. A verdade é que a verdade pode ser totalmente diferente do que eu imagino. Eu posso estar a cada dia sabendo menos sobre você. Pode ser que algo de grave aconteça, que você precise de ajuda, que eu possa ajudar, mas eu nunca vá saber. Você não vai se lembrar de mim, nem pedir minha ajuda. É possível que sobre apenas sermos cada vez mais aqueles que não vão ficar sabendo, que não ligam um para o outro. Isso é triste e é igual a estar morto. Ainda que não seja verdade. O que não faz diferença, já que a gente não se importa mais. Espera. Não é verdade. Eu me importo. Você importa. Verdade.

CANTO DA VIAGEM A BÚZIOS (QUE NÃO FIZEMOS)

O amor adormece em seu coração
não é a ânsia da conquista
nem é a angústia da separação.

É mais
algo bom
algo junto

um novo assunto
descoberto a dois.

O amor aproxima, quer ficar perto,
mas não é travoso
nem é corte ou sina.

É muito
querer o quisto
querer com gosto

um plano hoje,
um novo depois.

Olha,
o amor se escolhe
antes que encolha
adormeça e morra

(só que é de puro medo)

Creia,
O amor pode,
sempre volta,
transforma, se reinventa.

Duvida?
Por que não tenta?

INSTALAÇÃO

AMEM
AMEM
AMEM

Amén

terça-feira, novembro 15, 2011

TODOS OS DIAS

Só vi que você vinha na mesma calçada que gente quando você já estava quase esbarrando em mim. Os meninos puderam ver você. Foi sincera a emoção dos abraços entre vocês e a dos que trocamos. Sua pergunta é que soou estranha. "Você está bem"? Pergunta de quando não se tem o que dizer. "Tudo. E com você?" Resposta igualmente tola. Não lembro se você respondeu alguma coisa. Depois que você disse tchau e foi para o shopping é que me ocorreu: a pergunta não é se está tudo bem, porque tem vários jeitos de se estar bem. A pergunta é "Valeu a pena trocar o amor pela mágoa? Pelo medo, pelo orgulho?". Porque essa é a pergunta que só tem uma resposta e você vai ter que respondê-la todos os dias. Na volta para casa, meu filho mais novo perguntou por você: "Por que a tia vai embora"? Acabou saindo "a tia tinha que ir ao shopping", só que dentro de mim eu queria ter dito "eu não sei filho, realmente não sei o que ela está fazendo". Vale a pena?

segunda-feira, novembro 14, 2011

SABE?

O amor resiste a tudo.
Muda tudo.
Vence tudo.

Menos falta de amor.

Falta de amor próprio,
de amor do outro,
vence qualquer amor que tudo vence.

Tanto que eu venceria tudo, porquanto
do amor próprio, eu cuido,
do amar você, eu amo.

Mas seu amor me falta.

Tanto que a falta
tanta de você me amar
faz faltar em tudo um tanto.

Porque é tanto que eu te amo
e com tamanho desengano,
que a rima que de tanto você gosta
marca em meu rosto rastros
de lágrima e desencanto.

quarta-feira, outubro 19, 2011

DRUMMONIANDO

Um carro passando,
a luz de um poste qualquer,
qualquer coisa longe

Um moço indo
ereto, olhos à frente,
onde mal se enxerga

O sol que saiu
O sal que sobrou
O mar que sorri

igual todo dia que vai
lá fora, enquanto aqui

se fode, com vagar...

Eta vida boa, meu Deus.

SABE

Sabe que tenho feito algo de você?
Tenho feito de você minha.
Minha leitora escolhida.
Escrevo porque você lê.
Ou imagino que lê.
Não importa.
Escrevo porque você existe e pode ler.
Não quero deixar você sem minhas palavras.
Não quero não ter você.
Não quero deixar de ser seu.
Ainda que eu escritor de palavras mal arranjadas.
Ainda que você minha leitora distante.
Intocável.
Desejada e impossível leitora feita das próprias escolhas.
Quando escrevo vejo você me olhando.
E você ainda vive aqui.
Quando escrevo, a palavra final é minha.
A última palavra é você.

segunda-feira, outubro 17, 2011

LEIA NA MINHA CAMISA

Eu não sabia que você era assim...

Eu
e
o
Sol

PARECIA

Sabe que eu acho que vi você?
No metrô.
Parecia você.
Seu tamanho.
Sua calça e camisa bem justa.
O casaquinho por cima.
O mesmo sapato.
Audrey Hepburn da Cinelândia.
Tinha uns óculos rayban tipo aviador.
A lente eu não lembro de que cor era.
Essa sexta-feira última.
Parecia você, vindo da Tijuca.
Indo para algum lugar sei lá qual.
Fazendo o que ali?
Por que logo ali onde eu passava?
Eu vinha, já tinha passado, quando virei bem rápido para ver.
Pareceu que era.
A roupa bem justa.
De falsa magra.
Sua altura.
Ou você é mais alta e eu não lembro?
Ou você não trabalha mais em outra cidade?
Não estuda lá longe?
Será que era?
Era.
Eu vi.
Acho.
Eu indo para um lado.
Você para o outro.
Rápido.
Também ali no metrô.
Na Cinelândia.

domingo, outubro 16, 2011

JUSTIÇA

Preciso ser preciso.

Não sei amar
sem precisar.