Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

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No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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quinta-feira, dezembro 01, 2011

FRESCURA

É a festa de confraternização do local onde trabalham. Dezenas de pessoas que passaram o ano convivendo profissionalmente encontram espaço para demonstrar alegria pelas realizações alcançadas e para renovar a convicção de novas conquistas no futuro. Sorridentes, os dois dançam, entregues àquele rito de celebração. Fotos antigas são projetadas em um telão e ele se lembra de que há três anos eles dançaram juntos, naquele mesmo local, na mesma festa de fim de ano. Eles é que não são os mesmos. Estão diferentes. Agora riem mais confiantes, mais íntimos. Coisas do tempo. As formalidades na pista de dança não são mais necessárias e ela se desfaz dos sapatos, trazendo para a festa a leveza de seus pés descalços. Depois é ele que se livra de sapatos e meias, compelido a acompanhar o gesto dela, embora sem a mesma graciosidade. Os pés descalços na pista de dança os unem, selam entre os dois um pacto pela alegria e lhes dão algo que agora compartilham. São parte da alegria um do outro enquanto dançam despreocupados e felizes. Dividem uma celebração verdadeira em meio a pedaços de vidro deixados no chão pelas taças que se quebraram. Preocupado com possíveis cortes e perfurações, ele faz menção de entregar a ela de volta os sapatos que podem de novo proteger seus pés. Ela retruca: “Frescura!”. Ele ri. Permanecerão descalços. Não existe espaço para frescura naquela noite de música, giros e risos. A menina criada no subúrbio do Rio, correndo descalça no asfalto quente e na terra batida dos quintais, tem seus pés protegidos pela certeza de que existem coisas muito mais importantes do que se usar sapatos quando se está feliz. No topo da lista, a própria felicidade. Na outro dia, ele lava os ferimentos dos pés e retira os pedaços de vidro mais persistentes. Não consegue deixar de dar razão a ela e sorri: “Frescura”.