Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

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No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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sábado, dezembro 11, 2004

CORES

Certas cenas têm cor própria, que qualquer par de olhos, ainda que destreinado, consegue distinguir.

É amarelo o trânsito de corpos nas áreas de lazer espalhadas pela cidade em busca de uma sobrevida num corpo saudável, assim como é branco os lábios entreabertos dos fiéis ao receberem a eucaristia das mãos do sacerdote. E quando os carros são forçados a parar num engarrafamento qualquer, é verde a cor que toma conta dos motoristas embaçando-lhes a vista.

Pedro observando Mariana na cozinha de azulejos azuis e piso de fórmica branca era vermelho. Vermelho da paixão de Pedro desconcertado, olhos fixos nos detalhes de Mariana. Os contornos de seu corpo e as nuances de sua personalidade revelam para ele uma mulher indecifrável, o que o faz mais e mais refém daquele amor. Para seu desespero, ela jamais haveria de precisar dele, depender dele, com a mesma intensidade da recíproca.

A independência pulsante de Mariana é uma mancha bege no rubor que aflora em Pedro. Corrói-lhe a falta que sente do escarlate puro, sem máculas, e ele passa a enxergar apenas a pureza que já houve em seu olhar sobre a mulher. O amor em Pedro é querer de volta o vermelho vivo de antes, fazer sumir o bege.

Os passos na direção dela são inevitáveis. É preciso aproximar-se e a todo custo apagar as manchas. Purificar Mariana. Tão bonita a mulher, de movimentos leves e ritmados, em cujas mãos a lâmina da faca de cozinha tem a desenvoltura de uma bailarina. Pedro colado ao corpo de Mariana. Os olhos dela tomados por lágrimas. Sumiram as manchas. Só Mariana. Apenas Pedro.

- Bem perto assim de mim, você fica linda cortando cebolas.