Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

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No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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terça-feira, novembro 23, 2004

ANJO

Quando eu nasci,
um anjo torto
da coluna, manco
do pé esquerdo,
caolho e de audição
prejudicada, disse:

- É meu! Esse é meu!
Poxa, deixa eu ficar com ele,
vocês nunca me deixam nada...
Sacanagem...

Eu, que não sou de passar recibo,
e achei graça do anjo quebrado,
pronto respondi de volta:

- Por que não?

Dali em frente,
por vezes escorei meu anjo
nas ruas
que ele não tropeçasse.

Assisti grudado em amplificadores
aos mais pesados concertos
de rock’n roll
que ele sentisse vibrar no corpo
a música das guitarras.

E sempre que apanhava o ônibus
já na hora de ir embora
eu é quem garantia
que entrara no carro certo
senão ele se perdia.

Em compensação
não tive sorte no que quer que fosse

e o meu porquinho-da-índia preferiu
consagrar-se freira
a ser minha primeira namorada.

Não deixei legados
de miséria nem fortuna

e quem me sobrou desposar
durou até o anjo insistir
em dividir teto e colchão conosco.

Mas, no Natal,
o bom anjo sempre reclama
que já não ligo tanto para ele,
que se sente só
e só acabarei também.

- Sabes, Beatriz? Estou cansado.

E faço versos
como quem abre uma caderneta de poupança
(ou começa um plano de previdência privada).