Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

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No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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quarta-feira, janeiro 17, 2007

UM CONTO DE DUAS IDADES

Lembrou que a aniversariante era amiga em comum de ambos quando já estava a caminho da festa. Se tivesse lembrado antes, chegaria mais cedo. Fazia tempo que não a via e oportunidade como aquela não se repetiria tão cedo (deveria ter se lembrado, droga!). A pequena multidão que se espremia impediu-o de vê-la por pouco tempo. De pé, cabelos cor de cenoura, bonita como se lembrava dela. Passou a seu lado em direção à escada que levava ao mezanino onde a aniversariante recebia os convidados. Esticou os olhos e percebeu sorrisos em meio às conversas. A Cenourinha tinha companhia. A cada degrau, percorria partes da história dos dois. Primeira vista. Provocações. A certeza de que seriam um do outro. Concretizar o encontro. Apaixonarem-se. o confronto com às exigências que as paixões impõem. Desenlace. Desfecho. "Feliz aniversário!". 'Obrigada'. "Você merece!". Descendo escadas, novo olhar. Ela o vê. Cumprimenta-o com acenos e palavras que só podem ser compreendidas pela leitura dos lábios. Má idéia. Lembrou dos lábios. Passa direto. Não quer constrangê-la. Não quer se constranger. Ouve a música. Finge dançar. Finge que conversa. Corta o salão a procura de frestas na multidão que permitam enxergá-la. O samba em volume altíssimo não atrapalha a música em sua mente. Só ouve a trilha sonora de ambos. Angra, Marillion e os Hermanitos. Não vai caminhar até ela. Não vai dizer que é bom revê-la. Não vai lhe dar um beijo (pelo velhos tempos, for god sake!). Não vai roubar um banco, nem ser perdoado pela História. Passa o cartão de débito no caixa. Recupera a bolsa de ginástica no guarda-volumes. Toma o táxi que o segurança lhe oferece. Antes de chegar em casa, ainda ouve do motorista que há noites em que nada dá certo. Gira a chave. Abre a porta. De pé, inesperada, sua ruiva. Sua Cenourinha. Cai o molho de chaves. Ouve boquiaberto escapar pelo sorriso dela: "What took you so long, stranger?". Desce do carro e dá razão ao taxista, que parte ignorando o pagamento a mais. 'Pode guardar o troco'.