Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

A Foto

No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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sexta-feira, novembro 18, 2005

RECEITA

Liguei sim.
Já era tarde, eu sei, mas liguei pra te oferecer cachorro-quente.
Era tarde porque eu cozinho sem pressa, lindo.
Com cuidado.
Uma hora e meia até estar tudo pronto.
Devagar. Para o apetite ir se abrindo com o manuseio dos ingredientes.
Para a vontade se instalar por dentro, junto da difusão dos aromas.
Cortar e socar o alho.
Cortar em cubos a cebola.
Separá-los em potinhos.
Adoro cheiro de cebola cortada (embora deteste as lágrimas nos olhos).
Despelar os tomates.
Um por um.
Cortar em fatias.
Transformar em cubinhos as fatias.
Fatiar as salsichas.
Picar as azeitonas pretas.
Esquentar o óleo na panela.
Alho no óleo quente.
Fritar as cebolas.
Fritar a salsicha.
Despejar o tomate.
Reduzir tudo a uma pasta homogênea.
Acrescentar o extrato de tomate.
Salgar.
Apimentar.
Azeitonas.

Mexer, mexer, mexer.
O tempo todo mexer.

O segredo todo está nos pulsos que mexem a mistura.

Às onze o cachorro foi servido, enfim.
Foi quando liguei para te oferecer.

Você não pôde atender.
O barulho do jogo de baralho não deixou você ouvir o telefone tocar, não é mesmo?
Barulho do baralho é péssimo cacófato.
Não deveria ser escrito jamais.

Mas foi o que houve, não é?
Então precisa ser dito.

Que bom que houve baralho.
Gosto de baralho.
Gosto da idéia de pessoas que se amam jogando baralho.

Gosto da idéia de você feliz, baixando canastras, roubando montes, acertando tapões, vencendo rodadas com seus royal street flashes, ou seja lá que outro jogo vocês tenham jogado.

Gosto é a palavra-chave da manhã de hoje.

Gosto de você.
E gosto de cachorro-quente.

O que é bom, porque você não ouviu o telefone tocar minha ligação em que eu ia te oferecer do cachorro-quente que fiz e que acabou sobrando junto do pão.

O que é bom, já que você estava feliz e eu gosto de cachorro-quente.

Vou fazer macarrão quando acabarem as salsichas.
Vou ligar novamente para oferecer.

Eu não gosto de macarrão.
Tomara que no dia não tenha baralho.
Nem gamão, sinuca, porrinha. Nada.

Tomara que você não esteja feliz.

Tomara que você aceite.

segunda-feira, novembro 14, 2005

NINGUÉM

Cada corte sobre minha pele é um pouco seu. Eu amo muito e quem ama divide sempre. Divide tudo. Cada corte desses, que de longe dá pra perceber, é um pouco seu. Tudo é um pouco seu. Tudo é todo seu e eu sou toda sua. Viado! Cada arranhão nas suas costas é um pouco seu também. Você não adora quando eu invento destemperos, quando eu ajo desesperada? Quando eu mostro sem vergonha nenhuma que para mim só importa ser sua mulher? Não adora? Pois é. Tudo tem um preço nessa vida. Não existe mulher como eu, que faça as coisas que eu faço, do jeito que eu faço, de graça. Ainda mais para um babaca como você! Nem puta é de graça, sabia? Vai ouvir meus gritos, sim. Vai assistir às minhas performances, sim. Sempre que eu quiser. São os meus showzinhos particulares. Não é assim que você chama quando eu preciso ter certeza de que sou sua e que você é meu? Não é assim, seu merda! Por que você faz isso comigo? Pra que quer me matar assim? Por que é que você faz tanta força pra tentar me destruir? Você vai acabar conseguindo, desse jeito. Já está conseguindo. Se você continuar eu morro. Não está vendo?

- Olha só, amor. Show do Oswaldo Montenegro na praia. A gente podia ir, não podia? Que tal?

Que cara é essa? Não pergunta, idiota! Cala a boca e chupa! Finge que não está acontecendo e beija! Ninguém vai ser desse jeito pra você. Você não sabe disso? Ninguém vai ser só pra você. Beija com força. Porque ninguém vai. Beija. Eu morro se você parar. Pára!