Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

A Foto

No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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terça-feira, setembro 20, 2005

19º ANDAR

Sem mais nós
Sou
E somos

E tantas vezes
Menos
Santo

Vejo alto quando subo
Escuridão de dentro

Eu


Onde tudo despejo inteiro
Acabo cheio

segunda-feira, setembro 12, 2005

SILÊNCIO ATENTO

Silêncio atento
em que se ouça
e com graça cale-se
o ruído.

Cadência certa
em que se meta
e materno ordene-se
o rumo.

Música em torno,
vem!

Bem-vinda! Trilha certeira,

louça posta
a serviço da novidade:

namorá-la à noite
e dividirmos olhos,
segredar lampejos
e invadir-lhe os seios.

Enfim! Incontida
flor de uma nova era,
o amor em mim,

perfume raro.

E o antigo anúncio,
novo brado revolucionário:

existe o amor, de fato,
como dizem tantos
e muitos sentem,
afortunados.

Amor! Que migra todo
do intuito à prova,
um novo estado,

lucidez clara.

Limite aberto
onde eu mesmo caibo

admirado,
admirado,

nosso tamanho juntos.
Nossos dois colados.

quinta-feira, setembro 08, 2005

MAIORIDADE

Maior idade legal à beça!

- Vinte e um.

Bom e belo e amado.

Felicidades.

BALÉ

- Sabe uma coisa que eu não consigo entender? Por que resolver dançar balé agora, já adulto? Cara, você trabalha, tem mulher, já é pai. É esquisito pacas isso, você há de convir.

- Mas não é nada complicado, chega a ser óbvio até. Como você bem disse, eu hoje estou casado. Lembra da vovó dizendo que as mulheres se casavam para sair de casa, poder estudar, trabalhar, trepar, etc? Quando um homem decide fazer balé, ele é sempre acusado ou de ser viado, ou então de querer comer as meninas com quem ele vai dançar. Estar casado me livra a cara dessas duas acusações.

- É só isso? Quer dizer então que você sempre quis fazer balé, mas a opinião dos outros a seu respeito te impedia? E depois que você se casou você se viu liberado? É isso?

- Não é só isso. Estar casado acaba redirecionando boa parte das suas energias. O que você antes consumia com farras, festas e congêneres, vira excedente, uma sobra de força e tempo que é preciso aproveitar de alguma forma.

- Putz! Então foi falta do que fazer? Energia demais não aproveitada?

- Não apenas, não apenas. Quando se cresce e a vida adulta se impõe, tudo se torna pesado. Sua mulher reclama de tudo o tempo todo, o bebê não pára de chorar, o trabalho se acumula, o dinheiro não dá para pagar as contas. O prazer some. Tudo é cada vez mais sofrido e pesado. A tal maturidade, como gostam de chamar.

- E dançar balé e uma forma de amenizar isso? Mexer o corpo, se expressar artisticamente. É isso, então?

- Pelo contrário. O balé é vexame e dor. Você faz papel de palhaço desde o momento em que calça as sapatilhas e veste aquela calça de malha e o collant, até o final das aulas, já que você obviamente não tem mais a força e a flexibilidade necessárias para acompanhá-las. É bom para te deixar morrendo de saudades do condicionamento físico que você teve e deixou para trás em algum lugar de sua infância. Desde o primeiro dia suas costas parecem ter sido esmagadas por um trator. Os tendões do tornozelo imploram pelo amor de deus que você pare já aquela sandice de exigir que eles se dobrem mais do que a natureza permite. Os joelhos inflamam e a dor te leva a perder as forças. Dói tanto que você é obrigado a se sentar, ou até mesmo deitar, esperando que ela passe. Quando não passa, o jeito é tomar um grande coquetel de antiinflamatórios. Isso se quiser continuar fazendo coisas simples, como caminhar, por exemplo.

- Caralho! Se não existe arte, se não te faz bem nenhum, só te detona mais do que você já reclama estar detonado, por que fazer essa droga de aula de balé?

- Por isso mesmo, cara. Por isso mesmo. Passa o saco de gelo, agora, sim? Ah! E alcança o controle remoto. Adoro esse seriado.

segunda-feira, setembro 05, 2005

SOUBE

Eu soube que nosso amor duraria para sempre desde o início, sabe? A gente quando é mais novo, o pessoal que é mais velho fica dizendo para não perder tempo com essas coisas de romance e amor, que é tudo bobagem, toma tempo, que a gente deve mesmo é estudar e se preocupar com o futuro. Mas comigo nunca deixei que fosse assim. Nunca me deixei acreditar nisso que eles falavam. Meu futuro era para ser com você. E hoje, cinqüenta anos depois, a gente pode dizer isso sem medo de dizer mentira, não é, bem? Quem diria que ia dar nisso? Quer dizer, eu diria. Claro que eu diria. Desde o início eu já podia dizer. Ali, quando você pegou minha mão e colocou no seu peito, sobre a camisa, no lugar do coração. Tão romântico eu e você detrás da igreja da praça, na festa da padroeira, no dia em que nos conhecemos... Ali eu já podia dizer, bem, que ia ser do jeito que foi, não é mesmo?

- Mas eu nunca peguei sua mão, muito menos atrás da igreja, de sei lá que praça. Nós nos conhecemos trocando cartas. Esqueceu?!!!

Não importa, bem. Não importa nada, nem faz diferença. Você pega agora nela, ora pois. Segura aqui. Põe em cima do coração. Isso... Tão romântico, bem. Era para ser, não tenho dúvida nenhuma. Ia ser assim. Eu sempre soube.