Seminovos e usados

EM TENTATIVA

Pessoal

Mora no Rio de Janeiro. Carioca adotivo, faz umas coisas por aí e já quis escrever com alguma disciplina, razão de ser desse blogue.

A Foto

No cabeçalho do blogue são três britânicos vasculhando os destroços da biblioteca de Holland House, em Londres, outubro de 1940, após bombardeio alemão. Nove em cada nove espíritos elevados concordam que entre uma bomba e outra há sempre espaço para uma flûte de champagne, um passeio de olhos em prateleiras repletas de livros e uma boa leitura. Sem dúvida.

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segunda-feira, agosto 29, 2011

OUTRA VEZ

Querer pouco é bobagem
então quero trabalhar nunca

trabalhar, seu Oscar,
é para quem não tem muito o que fazer

que se há de fazer?

ficar à toa

deus me livre de usar minha produtividade para produzir

antes seduzir
antes criar
antes desenrolar

o ócio seguinte
o amor sem planos
o existir apenas

deus me dê dádivas
dúvidas
e uma vontade mansa

mas para encarar um tranco de cada vez

e para caber um riso em cima do outro riso

só uma outra vez.

sábado, agosto 27, 2011

AGORA TEM

Agora, tem uma coisa de bom na gente se amar e ficar afastado um do outro.

Vai dar para tirar a dúvida entre o que mais se escuta por aí quando a gente põe escrito em nossa cara o abandono.

Ou obteremos a prova de que o amor verdadeiro existe e nada apaga, nem diminui o desgraçado.

E daí nunca mais vamos nos esquecer, nem ter paz pelo amor não vivido, nem vamos amar de novo de um jeito sequer parecido.

Ou então vai ficar provado que tem uma hora que, fazendo bastante força, dá para se livrar do amor, não importa seu tamanho.

E viveremos estranhando o que um dia sentimos que era completo, imutável e eterno.

Mas daí, pensando bem, não.

Não parece tão bom assim trocar esses cortes cada vez mais fundos em mim mesmo por uma resposta que tem mais jeito de castigo do que de prêmio pelo fim da dúvida.

Pensando bem, agora tem.

sexta-feira, agosto 19, 2011

VALSA DE PARATITATÍ

Eu também
sinto uma saudade
filha da puta, uma santa
bemquerença de você.

Eu também
sinto em todo o resto
repetição e retorno
e sei muito bem porquê.

Eu também
quando deito, acordo
às vezes pensando em se e
como podemos ser.

Eu também
no meu corpo tem
seu cheiro e o toque,
fundidos, como a prover.

Eu também
penso, pena, raios,
olha isso, o quanto
sinto amar-te e te querer

Que daí também

acabo sempre de novo
prestes a me desdizer

em um novo "para quê?".

QUESTÃO DE FATO

Toda resposta
estraga a pergunta

quinta-feira, agosto 18, 2011

LARGO SANTO 3

Onde o bonde faz a curva
um largo onde o tempo faz
hora digerindo o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
bebe-se com calma lá
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
formam um mural bem manso
no silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Onde o bonde faz a curva
boteco da goiabeira
Nossa Senhora das Neves
que Santa espreguiçadeira!


SER OU NÃO SER


Pra que essa porra

toda

se não for gozá-la?


LARGO SANTO 2

Onde o bonde faz a curva
um largo onde o tempo faz
hora digerindo o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
bebe-se com calma lá
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
formam um mural bem manso
no silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Onde o bonde faz a curva
lá onde o remanso deita
Nossa Senhora das Neves
de sua capela branca
escuta quem ali chega.

quarta-feira, agosto 17, 2011

HAICAI KODAK





presidente vargas
rio branco vão
só a candelária não


HAICAI MINIMALISTA COM TÍTULO À GREGÓRIO DE MATOS, DA MOÇA QUE AOS DEZESSEIS ANOS, DEBUTANTE NO AMOR, ENTREGOU-SE AO NAMORADO

Pai
Dei
Fui

terça-feira, agosto 16, 2011

LARGO SANTO

Onde o bonde faz a curva
tem um largo onde se chega
para se encontrar o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
onde se bebe com calma
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
onde se vive bem manso
o silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Menos sábado, em que chega
o carnaval, quando desce
o céu na terra cedinho
e as cores gritando alto
em festa, numa orgia
de música e desalinho,
à mostra nas fantasias,
cortejam tanta alegria,
que vozes meio abafadas
confusas com a desordem
se queixam meio mofadas
reclamam da barulheira
apelam até pros santos
“Valei-me, santinha lei,
Acode-me, ó deus-prefeito!”

Pra sorte dos que festejam
mais forte que os que bocejam
é a santa que ali protege
tanto os que se dizem cheios
quanto os que da vida bebem,
Nossa Senhora das Neves
de sua capela avisa:
credo! deixem de besteira!
lugar de guardar silêncio
agora só na quaresma
esperem a quarta-feira!

Onde o bonde faz a curva
lá onde o silêncio deita
o corso comunga o riso
no gozo da santa paz.

quinta-feira, agosto 11, 2011

422/98

Manhã
quase tarde
vizinho
porteiro
o chef de cozinha
sensei
verdureiro
meus pães
esses rostos
milhares de laranjeiras
nos rostos
de dia
no ponto
meninos
meninas
mordazes
da escola
bom dia
de pressa
e desprezo
meu troco
piloto
depressa
que é tarde
nos passos de dentro
de fora
vai lento
o dia
janela
vai vento
que entra
nos ferros
assentos
nos rostos
vazios
em volta
os surdos e mudos
falando aos gritos

quatro vinte e dois nove oito

que fome desnecessária
tão perto da praça
são salvador
tão junto
delícias
do largo
do machado ao largo
onde subiu um moço
e subiu o medo
do assalto
outro dia foi com a vizinha
e conheço um conhecido de um conhecido que aconteceu
[também...
cacete
o catete
da morte do presidente
acolhe o moço
que desce
alívio...
mas teve a moça!
roubaram a moça!
o telefone
ô sorte!
esse palácio no meu caminho
jardins no fundo
quase me esqueço
do compromisso
de todos nós
e de novo é tarde

quatro nove oito vinte e dois

ali na glória
de nossa senhora do outeiro
vigiando o mar
e as avenidas
os monumentos
longe os pracinhas mortos
ao lado a praça paris
o passeio
ficando pra trás
correndo
pára!
não pára não, moço
eu quero descer!
tá fora do ponto
pronto
tá no obelisco da rio branco
onde houve cavalos
e um monroe que não há mais
depois giramos
à sombra dos aviões
entrando no fim do aterro
embaixo no mergulhão
está escuro para se ler
para fugir
de tudo que vai lá fora
daquilo que vai por dentro
é quase o instante
da candelária
dobrar o angelus
vão-se nas barcas
vão-se na praça
quinze almas penadas
quinze apenados
mas o ar invade
o respirar
a marinha
o banco
a igreja
o branco do dia
das ordens
obrigações
nesses prédios
que são cidade
como é cidade
os que descem
os que ficam para seguir
para onde
não sei
não vou saber
nunca
se sabe além
daquilo
que mal se vê.