DRUMMONIANDO

Um carro passando,
a luz de um poste qualquer,
qualquer coisa longe

Um moço indo
ereto, olhos à frente,
onde mal se enxerga

O sol que saiu
O sal que sobrou
O mar que sorri

igual todo dia que vai
lá fora, enquanto aqui

se fode, com vagar...

Eta vida boa, meu Deus.

SABE

Sabe que tenho feito algo de você?
Tenho feito de você minha.
Minha leitora escolhida.
Escrevo porque você lê.
Ou imagino que lê.
Não importa.
Escrevo porque você existe e pode ler.
Não quero deixar você sem minhas palavras.
Não quero não ter você.
Não quero deixar de ser seu.
Ainda que eu escritor de palavras mal arranjadas.
Ainda que você minha leitora distante.
Intocável.
Desejada e impossível leitora feita das próprias escolhas.
Quando escrevo vejo você me olhando.
E você ainda vive aqui.
Quando escrevo, a palavra final é minha.
A última palavra é você.

LEIA NA MINHA CAMISA

Eu não sabia que você era assim...

Eu
e
o
Sol

PARECIA

Sabe que eu acho que vi você?
No metrô.
Parecia você.
Seu tamanho.
Sua calça e camisa bem justa.
O casaquinho por cima.
O mesmo sapato.
Audrey Hepburn da Cinelândia.
Tinha uns óculos rayban tipo aviador.
A lente eu não lembro de que cor era.
Essa sexta-feira última.
Parecia você, vindo da Tijuca.
Indo para algum lugar sei lá qual.
Fazendo o que ali?
Por que logo ali onde eu passava?
Eu vinha, já tinha passado, quando virei bem rápido para ver.
Pareceu que era.
A roupa bem justa.
De falsa magra.
Sua altura.
Ou você é mais alta e eu não lembro?
Ou você não trabalha mais em outra cidade?
Não estuda lá longe?
Será que era?
Era.
Eu vi.
Acho.
Eu indo para um lado.
Você para o outro.
Rápido.
Também ali no metrô.
Na Cinelândia.

JUSTIÇA

Preciso ser preciso.

Não sei amar
sem precisar.

VOU DESENHAR...

Amor é quando é uma merda estar longe.

E estar perto não é bastante.

DÚVIDA

"Gosta de uma pirocada, não gosta?"

Gosto!

"Da minha, ou de qualquer outro homem?"

Você anda falando muito nisso... Quer que eu dê para outro homem? Quer, meu gostoso?

"Não. Quero acreditar."

SENÃO

Ai, menina linda...
Quer saber de mim?
Sente falta de me ver por aqui?
Tô correndo muito.
Viajando que nem doido.
Trabalhando.
Escrevendo.
Criando os filhos.
E você tão linda.
Por aqui.
Ainda bem que não apareço.
Se não ia acabar vendo você também.
E tem esse problema.
Que é que eu te respeito.
Respeito o fato de você agora estar namorando.
Mas meu desejo não respeita nada.
Sei que é só carinho, que você me acha sensível.
Que você não quer me provocar.
Mas o meu desejo é todo ele provocável.
Não distingue entre essas categorias.
Então melhor assim.
Porque senão ia ser como é.
Que é eu sentir tesão sempre que você vem aqui.
Esperando me ver.
Querendo me ver.
Namorando outro, mas por aqui, para me ver de um jeito ou outro.
Trepando com outro, mas voltando aqui, pensando em mim, sabe-se lá como.
Que é você aparecer por aqui e eu lembrar de você no meu quarto.
Os olhos virando de tesão.
Você brigando para não gozar, louca de prazer, apanhando, querendo mais, sendo chupada.
Minha menina, cavalgando meu pau com meu dedo no cu e os peitos e a boca sendo beijados.
A buceta raspada derretendo com o entra e sai da minha pica.
Com minha boca.
Nós dois cheios de prazer, num final cheio da minha porra espalhada dentro de você, ou no seu corpo branco que eu acho tão bonito.
Pois então, menina linda.
Não quero pensar nessas coisas.
Mas meu desejo pensa.
Então até é bom eu não estar tanto por aqui.
Senão eu ia sentir tudo isso.
Ia acabar sentindo.